Viagem à India


Este e o relato da primeira viagem que fiz a Índia, em fevereiro de 1998. Foi num período muito auspicioso, quando acontecia o "Maha kumbhamela" um grande festival nos lugares sagrados que acontece de 12 em 12 anos, às margens da confluência dos 3 rios (Ganges, Yamuna e Saraswati).



VIAGEM DE AVIÃO DE DELHI ATÉ O RAJASTHAN


Primeiro fomos do aeroporto de Delhi direto para o Rajasthan. Ao entrar no avião que nos levaria até o Rhajastan não imaginei que ficaria tão assustada. O avião era tão velho e suas rodas empenadas que quando começou a se mover como uma geringonça descontrolada pensei dele se desmanchar, mas conseguiu levantar voo.

Voamos um pouco abaixo do que um avião de grande porte voaria, e isto possibilitou que tivéssemos uma linda visão ao anoitecer das paisagens e lindos castelos iluminados .

Quando o avião pousou no aeroporto do Rahasthan pensei que fosse se desmanchar ao tocar suas rodas no chão. O barulho era enorme e o avião chacoalhava-se todo. Quando parou, senti um alívio enorme por sentir que ainda estava vida.

O TEMPLO DO SENHOR BRAHMA EM PUSHKAR, RAJASTHAN


Ainda no Rajasthan, visitamos o fantástico Forte Jodhpur, muito divulgado e visitado pelos turistas, e o magestoso Forte Chittorgarh.

Depois fomos a Pushkar, onde existe o único templo do Deus Brahma na Índia. Um brahmane veio em minha direção e se ofereceu para fazer uma cerimônia para o meu falecido filho Érico no lago do Templo ("Brahma Kunda"), o que aceitei agradecida; depois dei uma doação em rúpias a ele, como é de praxe. Foi muito positiva essa homenagem que me deixou mais aliviada.

Perto do lago fica o templo dedicado a Brahma, o único na India, e alegam que é o único no mundo dedicado a este Deus.

O motivo de não haver outros templos dedicados ao Deus da criação, é a crença de que aqui Brahma faria um cerimônia de auto-flagelo. Quando sua esposa, Savitri, se atrasou para cerimônia, Brahma se casou com outra mulher. Quando a titular chegou e soube do ocorrido declarou que Brahma näo poderia ser adorado em nenhum outro lugar a não ser em Pushkar, o que o fiéis cumprem a risca.

PASSEIO DE CAMELO - PUSHKAR, RAJASTHAN


Em Pushkar existe também um deserto alugam-se camelos para os turistas. A gente senta no camelo mesmo, entre as corcovas, so com os arreios, sem aqueles aparatos de madeira que se usam nos elefantes.

Quando os camelos pegaram as areias do deserto saíram em disparada. Agora eu sei porque chamam os camelos de Navio do Deserto. É muito bom andar de camelo. O animal anda elegantemente e a gente vai de um lado para o outro, como se embalada pelas ondas do mar. Fiquei um pouco nervosa quando o meu camelo saiu em disparada pelas dunas do deserto, imaginando que fosse me perder, mas os guias que cuidam dos camelos assoviam e o camelo obedece e eles nos deixam no lugar de origem.

JAIPUR, CAPITAL DO RAJASTHAN


Em Jaipur é onde ficam os palácios mais interessantes da India. Uma de suas principais atrações locais é o Hawa Mahal, ou palácio dos Ventos, o que mais me chamou a atenção em Jaipur, pois ele fica bem de frente para uma rua bem movimentada. Basicamente uma fachada toda trabalhada, o palácio foi construído em 1799 para permitir que as mulheres da corte pudessem observar o movimento das ruas sem serem vistas. Dizem que dentro do palácio o ar chega frenco, como se tivesse ar condicionado, devido a meneira como foram construídas essas janelas. É uma aquitetura muito bela e de fácil acesso pois fica de frente para a rua.

Uma abertura minúscula que não permite que ninguém da rua enxergue a parte de dentro. Foi assim, deixando apenas um orifício em uma das 593 sacadas e janelas do palácio, que o imperador Jai Singh protegeu as mulheres de seu harém quando construiu seu magnífico palácio, em 1799. Pelas aberturas, elas podiam ver as festas da rua, mantendo-se puras. Ainda bem que hoje as mulheres podem ver a construção também de fora e apreciar sua beleza.

A cidade rosa, como é conhecida, tem outros prédios além do Palácio dos Ventos e muitos outros palácios e fortes antigos. Além dessas maravilhas, há, em Jaipur, palácios do século 19, um forte ao qual se pode chegar montado em elefante, o que não achei muita graça porque eles colocam um acento de madeira com lugar para 4 pessoas e não dá para se ter um contato mais direto com o animal.

Em Jaipur também tem um forte comércio e encontrei uma agência do Banco da India, onde pude trocar meus dólares por rupias. Também comprei duas malas enormes, que deu para trazes muita coisa que havia comprado pelos lugares em que ia passando. Em cada lugar existe um tipo direrente de tecido, de artesanato. Jaipur também é muito bom para se comprar jóias de ouro e prata com pedras preciosas e semipreciosas e tecidos e roupas maravilhosas.


Também em Jaipur, visitei o tradicional observatório astronômico “Jantar Mantar”, construído pelo Maharaja Jai Singh II em 1724, com potencial de observação jamais realizado antes.

UDAIPUR, RAJASTHAN



Udaipur fica próxima a Jaipur, uma enorme cidade. Nessa cidade visitei o templo de Sri Nataji, um dos templos que recebe a maior parte de donativos dos comerciantes e devotos de todos os lugares da India. Entramos na sala do tesouro e haviam muitas jóias que haviam sido doadas naquele dia.

Na hora em se abre o alter de Sri Nataji, uma multidão de indianos se amontoam na frente do altar e empurrar os que estão dentro para o outro lado, e os que saem no empurra empurra, voltam pelo outro lado e começa tudo de novo, uma loucura, mas que eu adorei. Me senti uma perfeita indiana naquele tumulto.

Nas ruelas do lugar existe uma enorme variedade de artesanato em metal , parafernália para cozinha, para arati, decoração, dentre outras coisas. Comprei minhas deidades em uma loja em frente ao templo de Sri Nataji.

AGRA, UTTAR PRADESH


Em Agra, como em Dheli, existem muitos castelos e monumentos lindíssimos, mas o que mais chama a atenção é o famoso Taj Mahal, um monumento que serve de túmulo para uma rainha chamada Moon Taj Mahal. Ele é feito de mármore branco, todo desenhado com um metal amarelo parecendo ouro e com pedras encravadas formando lindos desenhos de flores vermelhas e amareladas e ramos verdes, me disseram que era jade.

Por trás do Taj Mahal passa o rio Jamuna. Conforme a hora do dia, o tempo e a cor do céu, o mármore absorve a luz e o Monumento muda de cor. Da sua cor original branca ele absorve o tom rosa do por do sol, o azulado do anoitecer e assim por diante.

Dentro do Taj Mahal tem um túmulo pequeno bem ao centro, onde está enterrada a Rainha Moon Taj Mahal. Ao lado direito de quem olha, tem um túmulo bem maior, que pertence ao seu esposo e construtor do Monumento ao Amor, Shah Jahan. Na frente existe uma escada, que fica protegida por um portão de ferro. Lá embaixo existe outra sepultura que dizem ser do seu filho e sucessor Aurangzeb.

O FORTE VERMELHO



Construído sob as ordens de Shah Jahan, o imperador responsável pela criação do Taj Mahal, este é mais um belo exemplo da arquitetura indiana. Um viajante do século XVII chegou a se referir a ele como uma maravilha superior às prometidas no paraíso. As pedras vermelhas usadas nas paredes deste monumental conjunto arquitetônico indiano não são as mais preciosas, mas influenciaram diretamente seu nome: Red Fort (Forte Vermelho).

Localizado na região conhecida hoje como Velha Delhi, foi construído no século XVII. Na época, o soberano era Shah Jahan; após a morte da esposa, o rei decidiu transferir de lugar a capital do reino, até então sediada em Agra. Não poupou esforços nem recursos na tarefa de criar a cidade real.

Palácios adornados de ouro, prata e pedras preciosas, ladeados por jardins das mil e uma noites, ganharam vida a partir dos desenhos dos arquitetos reais. As riquezas e parte da construção, entretanto, não resistiram aos saques e à deterioração. Ainda assim, o muito que restou do Red Fort ainda permite vislumbrar a opulência daqueles tempos remotos.

JAMA MASJID



A mesquita, construída sob as ordens de Shah Jahan, próxima ao Forte Vermelho, é a maior da Índia.

VARANASI


Varanasi (ou Benares) fica localizada no estado de Uttar Pradesh. Varanasi, a cidade mais antiga na beira do Rio Ganges; fica no ponto considerado como o local mais sagrado de todos, bem no meio do Ganges, onde está o único trecho que vira para fluir de volta às montanhas onde nasce.

Em Varanasi nos banhamos no Ganges de saia e blusa porque o lugar é muito frequentado por sadhus e é considerado muito sagrado. Suas escadarias dão a impressão de imponência ao Rio Ganges. Ao longo do Rio existem construções parecidas com grandes palácios e abaixo as escadas, suas construções corroídas pelo tempo, faz-nos lembrar de como seria luxuosa e bela esta cidade adentrando o Rio Ganges tempos atrás. Mais recuado fica o lugar onde os mortos são cremados.

RARIDWAR - Maha Kumbhamela


A Cerimônia do Ganga-Puja no Maha-Kumbhamela: De acordo com a mitologia hindu, os deuses e os demônios combateram um dia para a posse de um vaso (kumbh) que continha o amrit, néctar ou bebida sagrada. Vishnu, a divindade que sustenta o universo, teria roubado o vaso dos demônios, levando-o para o céu. Durante a luta, quatro gotas da bebida divina teriam caído na terra, em quatro lugares diferentes da Índia. Esses lugares, onde o divino encontrara o humano, são considerados lugares sagrados.

Em Haridwar, na época do Kumbhamela, o governo manda fazer uma cidade de tendas, enorme, a perder de vista. Vem peregrinos de todas as partes do mundo. Achei muito interessante e até bizarro os homens alteres. Eles caminham milhares de quilômetros com metais atravessando várias partes do corpo, rosto e até a lingua para sustentar os altares e enfeites para adoração à Deusa Ganga.

A quantidade de mendigos é enorme. Os sadhus descem as montanhas nessa época para se purificarem e também para receber doações, pois é muito grande a quantidade de peregrinos. A cerimônia do Ganga-Puja é emocionante. São Muitos os brahmanes que fazem o ritual. Eles acendem enormes lamparinas de ghi (manteiga glarificada) e rodam recitando mantrans e sopram grandes conchas fazendo um som especialmente belo. Os cantores entoam hinos védicos que dá para ser ouvido do outro lado do Ganges.

Os devotos e turistas, inclusive eu, oferecem barquinhos feitos de folhas de bananeira e enfeirados com flores e lamparinas de ghi acesar e colocam nas águas do Ganges. Fiquei olhando meu barquinho descer sem nenhuma dificuldade pelo rio abaixo. É muito gratificante ver que nossa oferenda foi bem aceita pela divindade.

No dia da nossa saída de Haridwar para continuar nossa peregrinação, descobri que havia um templo de Durga bem no alto do Monte onde se faz a cerimônia do Kumkhamela. Tentei subir a montanha mas a pressão subiu e eu não consegui terminar a subida, tendo que retonar. Depois que saímos de lá é que me disseram que há um teleférido que nos levaria até o templo de Srimati Durga. Voltarei na próxima visita à India.

RISHKESH



Em Rishkesh, na descida das águas geladas do Ganges, tomamos banho naquelas águar limpas e puras. Mergulhei bem fundo e ao retornar parecia que meus poros brilhavam. Fiquei ali bastante tempo, tomando sol,mergulhando e bebendo daquela água sagrada.

À noite no hotel eu pedia para aquecerem a água para o meu banho devido ao frio que faz na região.

Rishkesh é um lugar muito bonito, com florestas verdes, e a água vem diretamente do rio Ganges, geladinha.

Ficamos hospedados em Hishkesh, onde começa a subida para as montanhas, onde assisti e participei desse grande evento por 15 dias.

Todos os dias descíamos para as festividades do Ganga-Arati em Haridwar. O grande festival Maha(grande) Kumbh Mela é celebrado nesses lugares, a cada doze anos, justamente para celebrar o contato da substância divina com a terra.

A NASCENTE DO GANGES


Nas Montanhas SIVALIK, onde começam as monções pela queda de grandes porções de água que sai arrastando tudo o que estiver no caminho. Essas correntezas carregam não só as águas do degelo, mas também uma quantidade enorme de sedimentos de terra fértil que são distribuídas por toda a planície do Ganges.

Na confluência dos rios Araknanda e Bhagirathi (rios extremamente turbulentos), a partir daí o rio que se forma desses dois afluentes é chamado de Ganges pela primeira vez. Neste local de águas tão violentas, fica a cidade de DEVPRAYAG.
À medida em que descemos encontramos o rio Ganges mais alargado e profundo e, por conseqüência, mais calmo. A partir daí começam a surgir grandes cidades. Avistamos logo a Passarela Lakrhman Julaque que atravessa o Ganges na cidade de RISHKESH

Por esta passarela encontramos muita gente, vacas e também muitos macacos travessos de todos os tamanhos. Os macacos pegam tudo o que podem – sacos com alimentos, máquinas fotográficas, óculos - precisei cobrir minha cabeça com um manto até a altura da minha boca e segurar com os dentes para me proteger pois eles poderiam pegar os meus óculos, assim como fez com um rapaz do nosso grupo, o coitado ainda era míope.

Depois vem a cidade de RARIDWAR, onde realmente o Ganges passa a ter sua real forma.

MEDITANDO NO CUME DO MONTE LAKSMI


Em um desses dias alugamos um carro apropriado e subimos o monte de Laksmi, nas montanhas SHIVALIK.

Durante a subida passei por outro aperto. O carro em que viajávamos - um ônibus TATA largo - e no sentido contrario vinha um caminhão da mesma marca - TATA - igualmente largo. Parece que essa companhia monopolisa o meio de transporte rodoviário na India. A estrada na montanha era em zig e zag e muito estreita. Quando avistávamos uma aldeia lá em cima a perder de vista, ao passar por ela e subindo mais um pouco, ao olhar para baixo a aldeia parecia muito abaixo, a perder de vista, e assim sucessivamente subindo, subindo.

E plantações nos terraços ondulantes esculpidos nas encostas íngreme, onde quase tudo é cultivado com muita dificuldade pois, pelo que pude observar, nesse montanha não havia rios com águas em abundância como nos vales mais abaixo.

Também não percebi nenhum tipo de pássaro ou inseto nesse lugar de altitude. No topo da montanha parece que tudo fica muito longe, como se a montanha fosse isolada de todo o resto das cadeias de montanhas do lugar.

Ao passar pelo caminhão nosso carro esbarrou com o enorme retrovisor no caminhão fazendo um barulho de batida. Não tive coragem de olhar para trás para saber se o caminhão caiu no abismo ou não. O motorista do nosso veículo, ao ver que eu estava muito pálida e assustada, dava gargalhadas, dizendo para eu ficar tranquila porque eu não tinha bom carma para morrer naquele lugar. Imaginem.

No norte da India, pelo menos nos lugares que percorri, não existem sinais de trânsito nem multa a não ser nas metrópoles. Vi um taxi cometer uma infração e o guarda de trânsito ao invés de multar, como em todos os lugares, ele batia no motorista de cassetete e o motorista saia correndo, acionava o veículo e fugia dando risadas.

O restante da subida até o topo, onde existe um mosteiro budista, subimos a pé. Foi o trajeto mais difícil para mim por causa da subida naquela altitude, sendo a última a chegar.

Quando chegamos no mosteiro, os integrantes do meu grupo ficaram conversando com os monges e eu fui contemplar a beleza do lugar, que era completamente silencioso; a sensação de paz era absoluta. Sentei-me de frente para o monte de Shiva, avistado ao longe iniciando a cadeia nevada dos Himalaias.

A sensação era de frustração devido as densas nuvens que cobriam as montanhas. Fiquei por algum tempo meditando e orando para que me fosse concedida a graça de ver de perto as montanhas... Jamais faria tal viagem novamente nesta vida pois não suportaria aquela subida novamente. Então, como se fosse um milagre, as nuvens se levantaram como se um enorme braço as elevasse fazendo com que aparececem todas as montanhas por alguns momentos. Depois novamente as nuvens baixaram e quem não estava presente não pode ver o evento.

Senti-me afortunada por ter recebido tal graça dos deuses. Após contemplar a cadeia de montanhas e, em especial o monte de Shiva, agradeci silenciosamente a bênção recebida. Fiquei o tempo inteiro completamente muda, aproveitando aquele momento de reflexão e êxtase.

O RIO YAMUNA


Segundo a lenda, a deusa do rio Yamuna é irmã de Yama (o deus da morte), e filha de Surya (o deus do Sol.

O Rio Yamuna é quase tão extenso como o Rio Ganges, passando por várias cidades de norte a sul.

Dizem que agora está proibido cremar os mortos à beira do ganges e fomos jogar as cinzas de um filho de uma devota Narayana ,que mora no Rio de Janeiro, assim como eu, no Rio Yamuna.
Foi uma cerimônia muito bonita. Saímos em dois barcos todos decorados com flores e bandeiras.

Quando Chegamos em um banco de areia, descemos do barco e a cerimônia foi efetuada por um brahamane. Haviam muitos doces cobertos com folhas de prata e de ouro. Guirlandas de flores foram jogadas no rio e a que eu joguei abriu-se formando uma coroa.

VRINDAVANA


Segundo os Vedas, Krsna passou a sua infância nas águas do Rio Yamuna. Mais precisamente em Vrindavana, perto de Mathura, a penúltima estação de trem antes de chegar a Delhi.

Em Vrindavana fiquei 15 dias antes de continuar minha jornada para o Leste da India. Almoçamos um dia na casa de uma família de comerciantes local, tendo a oportunidade de ver o interior de uma casa tradicional indiana, seu modo de vida, e organização familiar, onde o serviço da casa é administrado pelas mulheres da família e o comércio fica com os homens. Cada loja é gerenciada por um irmão mais velho assessorado por seus filhos e sobrinhos.

Em Vrindava também existem muitos templos e palácios e portais muito antigos, onde são reverenciadas várias divindades védicas, tais como Hanuman, Jagannatha, Nrsinhadeva, Krsna - onde pude ver as filas de pessoas nas portas do templo recebendo alimentos que são distribuídos aos pobres todos os dias. A tradição diz que onde existe um templo de Krsna não pode ter pessoas passando fome nos arredores de até mais ou menos 3 mil metros.

Fiquei hospedada em um hotel ao lado do Templo Krsna Balarama. O hotel era grande e todo revestido em mármore branco.

Todos os dias eu ia até o templo ou ao Loi Bazer e tinha que passar por umas ruelas repleta de macaros sobre os muros. Para que eles não égassem meus óculos eu tinha que prender o véu do meu sari nos dentes.

Os quartos do hotel tinham 3 camas, banheiro, ventilador de teto e uma varandinha onde podia-se estender roupa. Todos os dias eu lavava meu sari e estendia nessa varandinha.

Um belo dia olhei de soslaio e vi um ser que parecia um menino, observei direito e vi que era um macaco, grande e forte.

Pensei: "se esse bicho me atacar ou entrar no meu quarto vai fazer um estrago, pois são muito artutos e curiosos e pegam tudo o que vêem. Entrei suavemente e fechei a porta antes que o macaco me alcançasse.


Um dos lugares mais bonitos naquele lugar especial de peregrinação, é o Lago Radha-Kunda - dedicado a Radharani, consorte eterna de Krsna. Esse lago sagrado fica ao pé da Colina de Govardana - colina que foi erguida por Krsna em um de seus passatempos com os habitantes de Vrindavana.

Meu grupo parcitipou de um Parikrama que circuambulou a Colina de Govardana.

Essa colina é regada dia e noite com leite, pelos brahmanes do lugar. Os animais das redondezes se aproveitam desse leite para se alimentarem. Pude observar que os animais de Vrindavana são muito gordos e bem nutridos pela fartura do lugar, em contraste com o restante da maioria dos lugares pobres da India.


Fiz de Vrindava meu ponto de referência para os outros lugares.

MAYAPUR


Em Mayapur, onde fica a maior cidade dos devotos de Krsna e onde moram muitos devotos estrangeiros, existe o mais importante templo Hare Krsna, onde fica o Samadhi (sepultura) de Sua Divina Graça Swami Bhaktivedanta Praphupada. O movimento nas margens do Ganges e pelas ruas da cidade é intenso. Encontrei pessoas de todos os lugares do mundo. Todas as tardes eu subia até o alto do templo para assistir o lindo por do Sol no Rio Ganges.

No Festival do Holi eu estava em Mayapur e me diverti muito com a guerra de pós coloridos que eram jogados sobre as pessoas nas ruas. Apesar das instruções de nosso guia para não sair sozinha às ruas, eu me aventurei e adorei aquela festa de rostos, cabelos e roupas coloridas como se fossemos telas humanas.

Também não segui as instruções do guia e saía todas as manhãs e me misturava com as mulheres na beira do Ganges para fazer minhas orações. Um dia resolvi pegar um barco sozinha. Contratei os marinheiros de um barco grande por indicação de um indiano que trabalhava em Mayapur e com quem fiz amizade e ele negociou com os homens, que me levaram até um grande banco de areia, onde fiquei por mais ou menos 1 hora recolhendo aquela areia bem fina do rio sagrado, e depois eles passaram e me trouxeram de volta.

Ao descer do barco minhas pernas não alcançavam a margem, então dois distintos senhores, que pareciam de uma casta de comerciantes bem sucedidos, me pegaram pelos ombros, um de cada lado, e me colocaram na calçada no meio das mulheres, onde eu já me acostumara com sua companhia. Me senti como que em casa.

Dentro da cidade murada, havia festas todos os dias. Houve um lindo parikrama com um elefante todo enfeitado de panos coloridos e dourados e guirlandas de flores, que não se assustava com as chamas das lamparinas da cerimônia durante o trajeto que passava pelos jardins e rodeava pela cidade até à entrada do templo.

Ouvi uma estória impressionante sobre a mãe desse elefante, que nasceu e foi criado em Mayapur. Dizem que sua mãe fazia sempre esse parikrama com a deidade de Krsna durante anos. Um dia a elefanta adoeceu e não melhorava mas também não morria. O tratador foi até o Sacerdote e pediu que levassem a deidade para a elefanta ver porque parecia que ela sentia saudades. O sacerdote assim o fez. Ao ver a deidade de Krsna, a elefanta olhou com um olhar de alivio, suspirou e logo a seguir morreu.

Por toda a planície do Ganges encontramos muitas cobras às margens do rio, e que invadem as casas e outras construções. Eu presenciei em Mayapur eles matarem uma cobra que assustava os turistas, mas na maioria das vilas os indianos convivem com as serpentes da mesma forma que com outros animais.

NAVADWIPA

Conhecendo os lugares sagrados dos Vaisnagas eruditos:


Conhecendo os lugares sagrados dos Vaisnagas eruditos:

OS TEARES DA BENGALA


TEMPLO DO DEUS DO SOL


Ainda em Orissa, em um vilarejo histórico chamado Konarak, visitamos o Templo de Surya, o Deus do Sol.

Esse templo foi muito importante nos tempos antigos e o lugar era muito próspero devido ao grande número de devotos que mantinham o templo e o enorme número de visitantes.

Mas hoje em dia é apenas uma ruína devido a invasão do general afegão Kalapahad, que invadiu o então reino de Orissa em 1508 e atacou diversos outros edifícios sagrados da região.

Conta-se que a deidade principal, que foi enterrada na areia para ser protegida contra os invasores, foi levada para o Templo de Indra, em Jaganatha Puri, embora digam que uma deidade no Museu Nacional de Delhi seja a verdadeira.
Pode-se ver ainda perfeitamente algumas das 24 grandes rodas esculpidas na pedra, simbólicas das 24 horas do dia, o que dá a impressão do edifício ser uma grande carruagem e os sete cavalos (um para cada dia da semana) chamados Gyatri, Usnika, Anustuv, Vrihati, Pangti, Tristup e Jagati.

Na grande arquitrave, parcialmente destruída, pode-se ver as personificações dos nove planetas: Surya (Sol), Chandra (Lua), Mangala (Marte), Budha (Mercúrio), Brihaspati (Júpiter), Shukra (Vênus), Shani (Saturno), Rahu e Ketu (Polos Lunares).

NA PRAIA DE PURI - ORISSA


Fiquei hospedada em um hotel na beira da Praia de Puri durante 15 dias. O portão dos fundos do hotel dava para uma estrada que beirava a areia da praia por um percurso bastante longo.

Todas as manhãs eu saía e me sentava em uma pedra à perto da areia e ficava esperando até que um grupo de mulheres passavam por aquele local, todos os dias à mesma hora, com um feixe de gravetos de árvores secas na cabeça (é um hábito as mulheres carregar tudo na cabeça: Jarros com água,grãos,óleos e outras coisas).

Na frente ia sempre uma mulher mais velha, seguida por outra, e mais outra, sempre as mais novas atrás, até que a última era quase uma adolescente. Elas andavam em fila, pés descalços e sempre com a fisionomia tranquila, sem nenhum tipo de afetação pelos acontecimentos à sua volta, sempre fixas nos seus afazeres.

Às vezes eu acordava um pouco mais tarde e saía correndo para o meu posto de observação para não perder a passagem das mulheres carregadoras para ver se em algum momento alguma delas se distraísse e olhasse para o lado, ou desse um sorriso curioso, ou esboçasse algum sinal de descontentamento ou cançasso; mas nada... elas passavam sem se incomodar com nada seguindo sempre o mesmo caminho, fazendo sempre o mesmo serviço, sem que nada as afligisse ou as distraísse... muito perseverantes e conformadas com seu destino. Uma cultura muito diferente da nossa.


A praia de Puri, provoca um sentimento que faz com que a consciência se expande, desde que se entregue totalmente ao humor devocional por Sri Caitania Mahaprabhu.
Foi nesta praia que Mahaprabhu enlouqueceu de amor a Krsna e entrou no mar, sendo encontrado muitos quilômetros além, por pescadores locais, em total estado de samadhi (mesmo estando vivo tinha a aparência de morto).

Como o por do Sol tem a aparência dourada em todos os lugares, isto pode ser confirmado nas fotos aqui editadas da praia de Puri, todos os dias eu ia meditar sozinha na areia da praia e observar o por do sol com seu reflexo nas águas do mar, mas não sei porque razão eu via o por do sol prateado e não dourado como todos o viam. Esse lugar é muito especial.

O JAGANATH MANDIR



Templo do Senhor do Universo - Jaganatha

A incrível sala dos espelhos no palácio de Delhi

A comovente oferenda em forma de cântico

RETORNO A VRINDAVANA


Gostei tanto de Vrindavana, que retornei para ficar mais 3 dias antes de retornar ao Brasil por sentir que Vrindavana era como um lar para mim, tamanha era a minha afinidade com aquele lugar tão devocional, tranquilo em certos lugares e festivo em outros. Já estava familiarizada até mesmo com os macacos do lugar, que eram muito gordos e bem alimentados como todos os outros animais das redondezas.

O motivo de não ter muitas fotos minhas é que fui para a India com a roupa do corpo, uma colher de sobremesa (pois não sei comer com as mãos) para poder sentir a viagem de peregrinação da minha vida sem nenhuma interferência exterior ou preocupação com bens materiais como máquina fotográfica, filmadora, compra de filmes, etc... Consegui apenas algumas poucas fotos que me foram enviadas pela Lila-Avatara, uma amiga que estava no meu grupo de viagem e que tinha uma filha que estudava com os meus filhos no Gurukula de Nova Gokula, Pindamonhancaba-SP.

Fiquei totalmente imersa no humor transcendental que aquele lugar oferece, podendo abservar cada detalhe e acontecimento sutil que o excesso de materialismo não nos permite absorver.

No dia do retorno o gerente do hotel onde fiquei hospedada providenciou um taxi para me levar até o aeroporto de Delhi em total segurança. E voltei com o coração leve e cheia de energia para recomeçar uma nova etapa na minha vida.

DE VOLTA AO BRASIL

ABRAÇANDO MEUS AMADOS FILHOS


Durante os meses em que fiquei na India, não telefonei nenhuma vez para minha casa, pois tinha total confiança que meu filho Miguel iria administrar as despesas tando na manutenção da casa, de seus estudos e de seus irmãos, apesar dele ser muito jovem e estudante universitário, na época. Enviei um email quando cheguei em Mayapur e outro no final da viagem avisando o dia e hora em que chegaria no aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro. Quando cheguei lá estavam meus dois filhos Miguel e Acyuta com meu carro para me levar para casa. Fiquei imensamente feliz em reencontrá-los e recomeçamos nossa vida com mais serenidade devido a experiência tão positiva dessa viagem.